Eu nunca soube, e nunca saberei a cor daqueles olhos, que me olhavam com tanta intensidade, calor, que me olhavam com o que eu achei que fosse amor. Não precisei da luz do sol pra mostrar o que, e quem, de fato você era.
Tudo que precisei fazer foi esperar que se cansasse de se esconder, de fingir, de enganar a nós dois. E eu esperei, pacientemente, aproveitando o pouco que recebia e me forçando a acreditar que aqueles momentos de afeto e servir eram reais, e não um passatempo de um amor febril, que as rugas em volta dos olhos existiam e que sua pupila dilatava quando me via. Tudo falso. Me forcei a acreditar porque, pra mim, sempre foi real. Você me fez crer que era real, com palavras, atitudes, abraços, beijos, carinho e presença. E eu venerei essas demonstrações como uma sacerdotisa devota num templo.
E amei cada segundo disso.
Cada segundo que eu me enganava para acreditar em você, para me contentar com o muito que achava receber, até o sol chegar e mostrar o nada que você me deu.
Minha febre era devoção, carinho, admiração. A sua era uma farsa, tempo atoa desperdiçado, todo afeto foi forçado e enojado. E, assim que toda mentira e todo fingimento foi escancarado e jogado na minha cara, eu percebi que todas as minhas súplicas foram ouvidas, mas claramente não atendidas.
Todo o tempo que te amei, amei sozinha.
E quando o dia chegou e você me deixou, e vi que foi tudo uma ilusão passageira. Eu caí. Chorei como uma criança que perdeu seu brinquedo favorito, enquanto você nem sequer percebeu minha agonia. Nem se importou, não perguntou, me calou e me abandonou. Não chorou, não gritou, não me procurou. Mas é óbvio que não iria, porque, se em todo esse tempo seus olhos apenas refletiram o brilho dos meus e nunca houve um átimo de luz que vindo deles, não seria agora, no fim, que eles brilhariam por lágrimas derramadas para mim, ou por qualquer sentimento existente e passível de ser destinado a mim.
Você simplesmente não tem nenhum sentimento por mim, nunca teve, por mais que achasse o contrário.
Cada marca sua desenha a linha entre a dor que inventei e a que você causou. Cada olhar infindo e bonito, esquecido no abismo de decepção que é lembrar de você, e de todo tempo contado que, na sua visão, foi desperdiçado.
De fato, a cor do nosso laço era pálida como a de um fantasma, e não precisei descobrir a cor dos seus olhos pra que me mostrasse o tom, ou a falta dele, da nossa ligação. Não foi preciso iluminar-nos pra você acordar e decidir que tinha cansado de brincar de me gostar. E eu choro pensando e falando comigo mesma que você não gostava de mim nem o suficiente pra me enganar de uma forma decente, por mais tempo, pra me usar até que a farsa te atingisse também e você passasse a me amar de volta. Os dias de silêncio que se seguiram depois do fim clarearam muitas coisas sobre nós, mas escureceram mais coisas ainda sobre mim mesma.
Você é parte responsável pelo desfiladeiro que eu me tornei depois de você, mas também será parte responsável por quem me tornarei depois de escalar as paredes escorregadias que limitam o que vejo agora.
Dito isso, quando a dor amenizar e eu me acostumar com a falta que você faz em cada suspiro pesado de dor controlada, vai morrer em mim cada desejo, cada saudade, cada frase, que, desesperada, eu gostaria de gritar pra você ouvir. Mas resolvi calar para seguir com nossas vidas. Vai sumir comigo o brilho falso dos seus olhos, que nunca me enxergaram como mais do que um momento na luz noturna, e que nunca foram banhados pelo brilho dourado de uma tarde de quarta, nem pela luz fugaz do entardecer com nossos corpos colados e almas entrelaçadas. Vai desaparecer em você a memória dos meus olhos azuis que cintilavam, mesmo na pouca luz, ao encontro dos seus, e vai permanecer em mim a decepção da dúvida que eu nunca sanei.
Como posso não saber a cor algo que nunca me enxergou, mas que eu tanto amei?
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Uau!!!!!!
Nossa Vey chorei